domingo, 15 de agosto de 2010

Os blogs educacionais e suas inúmeras possibilidades

Artigo: Professora Diana Maria Farias Pessoa - UFPE

Com uma iniciativa inovadora na área educacional, a professora Diana Maria Farias Pessoa, mestre em Educação pela UFPE, pesquisou o uso dos blogs no contexto da educação e concluiu que o uso dessa ferramenta é mínimo, principalmente em Pernambuco. Com o trabalho “Blogs Educacionais: uma caracterização a partir da Etnografia Virtual”, a educadora se propôs a analisar a convivência dos conhecimentos em Educação e em Informática, atualmente essenciais em nossa sociedade.

Diana, que tem graduação em Análise de Sistemas, especialização em Informática educacional, além de ensinar em instituições privadas de ensino superior em Pernambuco, defende em seu trabalho que “não há diálogo entres essas conhecimentos, pois, geralmente, o pessoal de informática só sabe de informática e o de educação, a mesma coisa”, atesta. A professora identificou, ainda, a dificuldade encontrada na pesquisa, pois, devido ao seu pioneirismo, quase não existe bibliografia sobre o tema.

O primeiro passo da pesquisa consistiu em dar uma classificação geral aos tipos de blogs existentes em quatro grandes grupos que são os blogs informativos; interativos/educativos; escolares/educacionais e diversos. A partir daí a professora definiu sua pesquisa em blogs voltados para educação pesquisando os blogs que entravam nessa caracterização. As possibilidades educacionais encontradas nesses blogs foram infinitas.

Na pesquisa, a professora enumerou aproximadamente onze fatores que tendem a trazer melhorias positivas para o ensino e aprendizagem, dentre eles a aproximação entre os alunos e os professores que trocam experiências em um plano mais descontraído. Segundo Diana, o professor pode, também, estabelecer elos mais fortes com seus alunos através dos blogs vinculando-os ao MSN, por exemplo. A maior aproximação pode fazer com que o professor conheça quais assuntos mais interessam seus alunos.

Outro ponto importante destacado no trabalho é a ponte que pode se estabelecer entre os próprios professores na troca de experiências de práticas pedagógicas. Professores de culturas totalmente diferentes podem interagir e selecionar o que podem trazer de bom para suas próprias práticas pedagógicas. E mais: a publicação dos chamados web fólios que são a divulgação dos trabalhos e pesquisas dos professores e dos próprios alunos nos blogs geram discussões em torno do tema. Enriquecendo os dois lados.

APLICAÇÕES – As aplicações pedagógicas são inúmeras desde publicar simples tarefas digitalizadas que só irá mudar o meio onde vai ser colocado, antes caderno agora blog, até atividades que provoquem o aluno a criar, escrever textos, fazer produções dos mais diversos formatos. Com uma diferença importante verificada durante a pesquisa: quando os alunos sabem que seu trabalho ou sua pesquisa irá ser vista por um público maior eles capricham muito mais no trabalho. É um incentivo a mais.

Existem vários usuários de blogs educacionais. Há aqueles, por exemplo, que caem de “paraquedas”, entrando neles aleatoriamente, e existem os próprios alunos, mas existe uma característica importante em relação a eles: quando os alunos se sentem obrigados a entrar nos blogs só o fazem porque são incitados e isto torna a atividade não prazerosa. O que instiga ao aluno a participar é o caráter de pessoalidade. O blog pode quebrar a coisa da hierarquia que existe na sala de aula. A pessoa pode se dirigir ao professor sem muito protocolo e vice-versa, como constatou a professora Diana em sua pesquisa. Outro importante ponto é a necessidade de atualização constante dos conteúdos para despertar o interesse dos alunos. Isto faz com que o blog fique movimentado.

INTERATIVIDADE – A professora pesquisou os tipos de interatividade em torno dos ambientes virtuais criados para a educação, ou seja, criados com a finalidade de construir sites de educação. Só existiam categorizados os tipos de interatividade baseados nesse ambiente. Contudo, o blog não foi criado no contexto educacional. Não tinha esse objetivo. Por isso a professora criou outras categorias que são muitas como, por exemplo, aluno/conteúdo; visitante/professor; escola/escola. Os blogs inicialmente eram relatórios publicados na internet e começou a ser usado para diferentes fins por conta da facilidade de uso. Não precisa entender de linguagem de programação ou de HTML para se fazer um blog. Daí a característica da interatividade nos blogs ser um processo muito mais rápido que em um site convencional. Tem a possibilidade da publicação instantânea. Antigamente os sites tinham um link “fale conosco” e quem sabe um dia você teria uma resposta. A resposta instantânea e um fator fundamental para promover a interatividade nos blogs.

PROFESSORES – Muitos professores têm uma dificuldade muito grande em utilizar o blog. Eles têm uma resistência enorme. “Quando se fala em blog nas salas dos professores, muitos torcem a rosto e dizem que blog é diário de adolescente na internet ou blog é um site de algum jornalista que não tem coragem de dizer o que pensa na verdade. Não se vê o blog como uma possibilidade de ampliação, como quebra das barreiras em sala de aula. Muitos professores ainda não conseguem ver isso” como destacou a professora Diana. Porém, às vezes essa repulsa por blogs é na verdade conseqüência da falta de intimidade dos professores com o computador. Existe ainda hoje professor sem email relata a autora da pesquisa.

Ainda hoje, nas universidades a professora não observou esse enfoque de ensinar a utilizar as tecnologias no processo educacional nos professores que estão sendo formados em educação. Não existe essa preocupação em aproximar da informática o professor que irão dar aula no futuro pondera a professora. A professora expôs que este acréscimo da informática na educação não substituiria a pedagogia tradicional, mas ao contrario, apenas acrescentaria novas possibilidades à mesma.

A professora aconselha aos professores que querem entrar nesse mundo dos blogs procurarem outros professores que utilizam blogs em suas práticas pedagógicas. Porem, isso teria que partir do interesse do próprio professor. Outra dica é que o professor deve se desfazer do academicismo e tentar estabelecer uma linguagem que o aluno fale. Isso vai fazer com que o aluno visite aquele blog. Se o professor estabelecer uma linguagem acadêmica ele vai estabelecer contato com outros professores que estão no mesmo patamar. Porém, o principal problema encontrado na utilização dos blogs é a falta de tempo disponível dos professores para atualizar. O blog pede a dinamicidade. Por isso é importante organizar-se em metas de atualização para manter o blog dinâmico.

O governo poderia tentar alguma iniciativa de obrigar a cada escola ter um blog, seu web folio, os seus projetos e atividades publicados on-line. Isto incentivaria de uma forma imensa o uso dessa ferramenta. Se fosse feito um laboratório de como usar esses blogs com os professores acho que isso funcionaria. Porque existem outras iniciativas. Os professores receberam notebook, receberam incentivos pra comprar computadores, receberam incentivos pra uma série de coisas, mas e o incentivo para o uso em si das ferramentas e das potencialidades que a web 2.0 pode trazer? Argumenta a professora Diana.

Já que existe a falta de treinamento especifico para usos dos blogs a professora destaca a iniciativa de um professor do Rio de Janeiro que criou um curso no próprio blog de como um professor pode utilizar blogs para o ensino.

PERNAMBUCO – Estabelecendo uma escala de um a dez como parâmetros de comparação em relação ao Brasil. Pernambuco tem nota três em relação ao uso dos blogs no contexto educacional. Não existe um mapeamento de quantos blogs existem em Pernambuco, Bahia ou São Paulo por exemplo. Se uma pessoa cria um blog e nunca mais usa, ele fica no ar. É o que se denomina lixo eletrônico. Não é justo comparar esses blogs com os blogs que são todos os dias atualizados. Então foram pesquisados blogs que são realmente usados e em Pernambuco esse uso foi mínimo.

Não foi encontrado nenhum blog de escola pública em Pernambuco. Realidade muito diferente das escolas publica do sul e sudeste que têm blogs que são premiados anualmente em concursos por causas das atividades que disponibilizam em seus blogs. A professora observou ainda que não há nenhuma diferença entre blogs de escolas públicas e privadas.

Em Pernambuco também foi constatado que os pais não interagem nos blogs. Já em escolas em outras localidades como o sul os pais faziam questão de interagir no blog colocando comentários, elogiando professores, elogiando determinados projetos da escola. Da mesma forma havia a iniciativa das escolas de quererem ouvir a opinião dos pais e postar elas nos blogs.

ENSINO SUPERIOR – Existe uma diferença básica entre os blogs de instituições de ensino superior e de segundo grau. Os blogs de instituições de ensino superior têm um formato mais acadêmico. Servem, por exemplo, para divulgar estágios ou assuntos pertinentes aos cursos. Não existe um espaço de discussão.

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